terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Apresentação do Ofício Parvo da Bem-Aventurada Virgem Maria - Pequeno ofício de Nossa senhora

 Texto de Theo Keller publicado na edição do Ofício Parvo da Baronius Press (com adaptações):

Ofício Parvo da Bem-Aventurada Virgem Maria é um dos brevia parva, um pequeno breviário. Em termos mais claros: é um ofício divino reduzido retirado do Comum de Nossa Senhora do Breviário Romano. Ele contém as Matinas, as Laudes, a Prima, a Terça, a Sexta, a Noa, as Vésperas e as Completas, e foi organizado de modo a atender às necessidades devocionais e litúrgicas de muitos leigos e de um grande número de comunidades religiosas engajadas no apostolado ativo.

Alguns desses pequenos breviários são relativamente recentes, sendo produtos do movimento litúrgico do começo e da metade do século XX. Já o Ofício Parvo da Bem-Aventura Virgem Maria, embora não seja o mais antigo, tem a honra de ser o mais popular entre eles.

Esse ofício foi a oração de centenas, talvez milhares, de comunidades religiosas, a maioria delas, como já foi dito, envolvidas no apostolado ativo, mas também de algumas contemplativas, como as Irmãs da Visitação, que usavam o Ofício Parvo como sua principal forma de oração litúrgica. E geração após geração, existiram milhares de leigos, ligados a comunidades religiosas, como terciários ou oblatos, que também rezavam as Horas de Maria.

Ofício Parvo é encontrado em todos os séculos, dos manuscritos medievais chamados Livros das Horas às obras editadas no tempo da “Reforma”, e em inúmeras edições privadas.

Os fatos sobre a história antiga das Horas de Nossa Senhora não são fáceis de pesquisar. Existem muitas lendas, mas aqueles que chegaram até nós estão muitos distantes de suas fontes para nos darem um quadro completo do desenvolvimento dessa forma de oração.

Podemos dizer que Bento de Aniane, um reformador monástico do século X, iniciou um processo em seu mosteiro que adicionou ofícios devocionais ao Ofício Divino. Com o tempo, o Ofício Parvo foi adotado lá e em outros mosteiros e abadias, e, rapidamente, passou a ser celebrado em quase toda catedral e igreja da cristandade ocidental. Ele acabou por se tornar uma parte obrigatória do Ofício Divino, mas só podemos supor em que ponto da Idade Média isso ocorreu. A lenda diz que o Papa Urbano II, no Concílio de Clermont, em 1095, no qual convocou a Cruzada, ordenou que os clérigos rezassem as Horas Marianas. Os registros, contudo, sugerem que ele ainda foi opcional por vários anos, até que, de fato, se tornou mandatório.

Nessa época de notável devoção à Santíssima Virgem, na catedral de Notre Dame, em Paris, ele não era opcional. Os leigos não vinham para o Ofício Divino, mas vinham para o Ofício Parvo. Os cônegos que cantavam nessa igreja e os leigos que os acompanhavam consideravam, claramente, as Horas de Maria familiares, íntimas e reconfortantes.

Desde 1568, após a reforma que São Pio V fez na liturgia a pedido do Concílio de Trento, toda edição impressa do Breviário Romano inclui o Ofício da Bem-Aventurada Virgem Maria, mas esse Papa removeu a obrigação dos clérigos recitarem as Horas de Nossa Senhora em adição ao Ofício Divino (ele autorizou sua inclusão em todos as edições impressas para aqueles que quisessem recitá-lo por devoção). Algumas ordens religiosas, contudo, mantiveram a obrigatoriedade das Horas de Nossa Senhora em adição ao Grande Ofício para seus membros, pelo menos por alguns anos.

São Pio V, encorajando a adoção da forma romana onde isso fosse possível, permitiu que as ordens e lugares que provassem ter uma forma particular do Ofício Parvo com mais de 200 anos (assim como da Missa e do Ofício Divino) continuassem a usá-la (é o caso dos cartuxos, dominicanos e carmelitas).

Durante quatro séculos, a maior parte dos católicos se familiarizou com essa versão vinda do tridentino. E foi ela, com pequenas mudanças aqui e acolá, que foi refinada por São Pio X, em 1911, como parte de sua reforma do Breviário Romano.

Em 1953, Augustin Bea (mais tarde cardeal) desenvolveu, a pedido das Irmãs Franciscanas da Suíça, uma versão das Horas Marianas que incluía, entre outros elementos, mais três tempos, orações e leituras, festas dos santos, etc. Essa versão foi aprovada por Pio XII, que permitiu sua adoção por qualquer comunidade que o desejasse.

Em 1955, a Congregação para os Religiosos em Roma solicitou aos monges beneditinos da Abadia de Em Calcat em Dourgne, França, a preparação de uma versão que satisfizesse quem pedia mais variação no Ofício Parvo. Assim, os monges lançaram em 1958 sua edição em latim/francês do Ofício de Nossa Senhora. As diferenças dele em relação ao Ofício Parvo eram:

a. Uso de todo o Saltério;

b. Uma leitura separada nas Matinas para cada dia do ano;

c. O desenvolvimento dos elementos do ciclo temporal;

d. Algumas festas que enfatizam o papel de Maria Santíssima na economia da salvação foram incluídas, assim como outras festas celebradas universalmente pela Igreja.

Apesar desses desenvolvimentos, o Breviário Romano continuou a trazer o Ofício Parvo na forma aprovada por São Pio X. Algumas mudanças ocorreram nos pontificados seguintes (como a supressão da Ave Maria dita em voz submissa antes do Ofício e a retirada da comemoração dos santos após a Coleta final), mas foram mínimas e apenas refletiam as do Ofício Divino. Na verdade, a modificação mais radical no Ofício Parvo foi o fato de algumas edições conterem o Saltério de Pio XII.

Então, por volta de 1960 a Igreja oferecia algumas versões das Horas Marianas aos fiéis:

a. A original, mais simples, e publicada no Breviário Romano;

b. A do Cardeal Bea, com seis tempos litúrgicos;

c. O Ofício de Nossa Senhora, editado pelos monges da Abadia de En Calcat, na França.

Mas, com as mudanças litúrgicas que ocorreram na década seguinte, as formas recentes foram totalmente abandonadas e mesmo a tradicional caiu em desuso. A maior parte dos religiosos que usavam o Ofício Parvo passou a rezar a Liturgia das Horas do rito paulino. Todavia, entre muitos leigos o Ofício Parvo da Bem-Aventurada Virgem Maria na sua versão tradicional continua a ser uma devoção popular. E não só nas comunidades ligadas à Ecclesia Dei, pois seu apelo espiritual atrai católicos com outros ethos.

Finalmente, podemos tratar especificamente dessa questão da atração gerada pelo Ofício Parvo. Por que ele é tão popular? Primeiro, ele é uma forma de devoção mariana. As pessoas devotas de Maria como Mãe de Deus e Medianeira de Todas as Graças encontram no Ofício Parvo uma maneira simples e direta de expressar tais verdades, como no Rosário, só que as Horas são litúrgicas. Em segundo lugar, a repetição diária dele nos dá um conforto familiar. Essa familiaridade abre as portas para a confiança, e, com ela, a pessoa que reza as Horas Marianas passa ter um entendimento mais profundo dos Salmos, leituras, hinos e orações à medida que o tempo passa. Isso também permite, àqueles que cantam o Ofício da Bem-Aventurada Virgem Maria, uma aproximação sem par com o canto gregoriano, e, portanto, nele temos uma excelente introdução a essa forma de canto na liturgia da Igreja.

Ainda há algo a ser posto sobre a repetição diária. Como dito, quando os cônegos da Catedral de Paris, no século XIII, cantavam o Ofício Parvo, era essa a forma de oração litúrgica que povo assistia. Essa também era a forma de oração com a qual os cônegos estavam mais familiarizados numa base diária. A confiança deles nas preces à Bem-Aventurada Virgem deve ter inspirado os leigos a participarem delas. Ouvir as mesmas palavras e músicas dia após dia certamente dava conforto a todos os presentes. O Ofício Parvo não requer uma grande mudança na percepção intelectual todos os dias, já que as palavras são as mesmas. Portanto, ele é fácil de rezar.

Ofício Parvo, então, é um feliz conjunto de intensa devoção mariana e amor pela liturgia da Igreja, constituindo uma fonte de oração comum e particular que satisfez milhares de católicos ao longo dos séculos, e vai, sem dúvida, continuar a satisfazer no tempo vindouro.

Fonte : apologética católica

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